A obesidade hereditária é um tema que levanta muitas dúvidas, especialmente entre pessoas que têm familiares com sobrepeso ou obesidade. Será que existe realmente uma predisposição genética ao ganho de peso? Ou tudo se resume a hábitos alimentares e estilo de vida? A ciência tem investigado cada vez mais a relação entre genética e obesidade, e os estudos mostram que, sim, existe uma influência hereditária significativa. Contudo, ela não atua de forma isolada.

Neste artigo, vamos abordar o que a literatura médica mais atual diz sobre os fatores genéticos associados à obesidade, como esses genes interagem com o ambiente e quais são as implicações práticas para quem quer prevenir ou tratar o excesso de peso.

Obesidade hereditária: o que dizem os estudos científicos

A obesidade é uma condição multifatorial, ou seja, resulta da interação de diversos fatores, sendo eles genéticos, metabólicos, comportamentais e ambientais. O fator genético tem um papel importante, principalmente em pessoas que apresentam casos de obesidade em diversos membros da família.

Estudos com gêmeos idênticos e gêmeos fraternos são clássicos nesse campo. Pesquisas mostram que a herdabilidade da obesidade – ou seja, o quanto a genética contribui para essa condição – pode variar de 40% a 70%, segundo revisão publicada na revista Nature Reviews Genetics (Loos RJF, 2018). Isso significa que uma parcela significativa do risco de desenvolver obesidade pode, sim, ser atribuída a fatores herdados.

Genética não é destino: o papel do ambiente e do estilo de vida

Embora a obesidade hereditária tenha base genética comprovada, é fundamental entender que os genes não agem de forma isolada. O ambiente em que a pessoa vive, os hábitos alimentares, o nível de atividade física, o sono e o estresse modulam diretamente a expressão genética. Esse conceito é conhecido como epigenética – a influência do ambiente sobre a ativação ou inibição de genes.

Assim, mesmo que alguém tenha predisposição genética ao ganho de peso, isso não significa que ela vá necessariamente se tornar obesa. Pessoas com alto risco genético para obesidade podem reduzir significativamente esse risco ao adotarem um estilo de vida saudável, com dieta equilibrada e prática regular de exercícios.

Portanto, ter familiares com obesidade não é uma sentença. É um sinal de alerta que deve motivar cuidados preventivos mais intensos e personalizados.

Diagnóstico e acompanhamento individualizado

Reconhecer o componente genético da obesidade pode ajudar no planejamento de estratégias mais eficazes de tratamento. Em casos específicos, principalmente de obesidade monogênica (mais rara, causada por mutações em um único gene), pode ser necessário o encaminhamento para avaliação genética e, eventualmente, uso de terapias mais específicas.

Na maioria dos casos, no entanto, o manejo inclui mudanças no estilo de vida, apoio psicológico, acompanhamento nutricional e, quando indicado, balão intragástrico e gastroplastia endoscópica. A individualização do tratamento é essencial.

A obesidade hereditária é uma realidade respaldada pela ciência. A predisposição genética ao ganho de peso é um fator relevante, mas não é o único nem o mais determinante. A boa notícia é que, mesmo com uma carga genética desfavorável, é possível prevenir e controlar a obesidade por meio de escolhas conscientes e acompanhamento médico adequado.

Se há casos de obesidade na sua família, converse com um especialista. Com informação, prevenção e estratégia, é possível driblar a genética e conquistar uma vida mais saudável.

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